O contrário do sincericídio é a mistura de
honestidade e carinho pelo outro. A gente diz o que pensa, mas protege de
informações que machucam e não têm implicações sobre o presente. A gente conta
o que é importante, mas não vai afogar o outro em pequenas vaidades ou
atribulações. O que você fez no passado, por exemplo, para que dividir? Às
vezes a sinceridade é apenas uma forma de exibicionismo. A atração que você
sente por Sicrana ou por Beltrano, guarde para você. O galanteio que você ouviu
do colega ou o sorriso que ele ganhou da secretária mais bonita do prédio, quem
realmente quer saber? A nossa vida não precisa ser um jornal que o outro recebe
toda manhã, cheio de noticias. Dividir a vida e dizer a verdade não é sinônimo
de contar tudo o que nos acontece ou passa pela nossa cabeça. Isso é
sincericídio. E talvez seja burrice.
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras na revista Época).
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